Progresso espiritual
Questões e Problemas
FILHOS, GUIAS ESPIRITUAIS DOS PAIS

Tendo perdido um filho de sete anos, e tendo-se tornado médium, uma mãe teve por guia o próprio filho. Um dia ela lhe fez a seguinte pergunta:

Caro e bem-amado filho, um espírita, amigo meu, não compreende e nem admite que tu possas ser o guia espiritual de tua mãe, já que ela existia antes de ti e, indubitavelmente, deve ter tido um guia, nem que fosse durante o tempo em que tivemos a felicidade de ter-te ao nosso lado. Podes dar-nos algumas explicações?

Resposta do Espírito da criança – Como quereis aprofundar tudo quanto vos parece incompreensível? Mesmo aquele que vos parece mais adiantado no Espiritismo está apenas nos primeiros elementos desta doutrina e não sabe mais que este ou aquele, que vos parece a par de tudo e capaz de vos dar explicações.
– Eu existi muito tempo antes de minha mãe e, em outra existência, ocupei uma posição eminente por meus conhecimentos intelectuais.

Mas um imenso orgulho se havia apoderado de meu Espírito, e durante várias existências consecutivas fui submetido à mesma provação, sem dela poder triunfar, até chegar à existência em que estava junto de vós. Mas como já era adiantado e minha partida devia servir ao vosso progresso, a vós tão atrasados na vida espírita, Deus me chamou antes do fim de minha carreira, considerando minha missão junto a vós mais proveitosa como Espírito do que como encarnado.

Durante minha última estada na Terra, minha mãe teve o seu anjo-da-guarda junto a ela, mas temporariamente, porque Deus sabia que era eu que devia ser o seu guia espiritual e que eu a traria mais eficazmente na via de que ela estava tão afastada. Esse guia, que ela tinha então, foi chamado a uma outra missão, quando
vim tomar seu lugar junto a ela.

Perguntai aos que sabeis mais adiantados do que vós, se esta explicação é lógica e boa, pois é possível que me engane ao expressar a minha opinião pessoal. Enfim, isto vos será explicado, se perguntardes. Muitas coisas que ainda vos são ocultas vos parecerão claras mais tarde. Não queirais aprofundar muito, porque dessa aparente preocupação nasce a confusão de vossas idéias. Tende paciência; assim como um espelho embaciado por um sopro ligeiro pouco a pouco se clarifica, vosso espírito tranqüilo e calmo atingirá esse grau de compreensão necessário ao vosso adiantamento.

Coragem, pois, bons pais; marchai com confiança, e um dia bendireis a hora da provação terrível que vos trouxe à via da felicidade eterna, e sem a qual ainda teríeis muitas existências infelizes a percorrer.

Observação – Essa criança era de uma precocidade intelectual rara para sua idade. Mesmo gozando saúde, parecia pressentir seu fim próximo; gostava dos cemitérios, e sem jamais ter ouvido falar do Espiritismo, em que seus pais não acreditavam, muitas vezes perguntava se, quando se está morto, não se podia voltar para os que se tinha amado; aspirava a morte como uma felicidade e dizia que quando morresse sua mãe não devia afligir-se, porque voltaria para junto dela. Com efeito, foi a morte de três filhos em alguns dias que levou os pais a buscar uma consolação no Espiritismo. Essa consolação eles a encontraram largamente e sua fé foi recompensada pela possibilidade de conversar a cada instante com os filhos, pois em muito pouco tempo a mãe tornou-se excelente médium, tendo até o próprio filho como guia, Espírito que se revela por grande superioridade.

COMUNICAÇÃO COM OS SERES QUE NOS SÃO CAROS

Por que todas as mães que choram seus filhos, e que ficariam felizes se com eles se comunicassem, muitas vezes não o podem? Por que a visão deles lhes é recusada, mesmo em sonho, não obstante seu desejo e suas preces ardentes?

Além da falta de aptidão especial que, como se sabe, não é dada a todos, por vezes há outros motivos, cuja utilidade a sabedoria da Providência aprecia melhor que nós. Essas comunicações poderiam ter inconvenientes para as naturezas muito impressionáveis; certas pessoas poderiam delas abusar e a elas se entregar com um excesso prejudicial à saúde. A dor, em semelhante caso, sem dúvida é natural e legítima; mas algumas vezes é levada a um ponto desarrazoado. Nas pessoas de caráter fraco, muitas vezes essas comunicações tornam mais viva a dor, em vez de a acalmar, razão por que nem sempre lhes é permitido receber, mesmo por outros médiuns, até que se tenham tornado mais calmas e bastante senhoras de si para dominar a emoção. A falta de resignação, em semelhante caso, é quase sempre um motivo de retardamento.

Depois, é preciso dizer que a impossibilidade de comunicar com os Espíritos que mais se ama, quando se o pode com outros, é muitas vezes uma prova para a fé e a perseverança e, em certos casos, uma punição. Aquele a quem esse favor é recusado deve, pois, dizer-se que sem dúvida mereceu; cabe-lhe procurar a causa em si mesmo, e não atribui-la à indiferença ou ao esquecimento do ser lamentado.

Finalmente, há temperamentos que, não obstante a força moral, poderiam sofrer o exercício da mediunidade com certos Espíritos, mesmo simpáticos, conforme as circunstâncias.

Admiremos em tudo a solicitude da Providência, que vela sobre os mínimos detalhes, e saibamos submeter-nos à sua vontade sem murmurar, porque ela sabe melhor que nós o que nos é útil ou prejudicial. Ela é para nós como um bom pai, que nem sempre dá a seu filho o que ele deseja.

Dão-se as mesmas razões no que concerne aos sonhos. Os sonhos são as lembranças do que a alma viu no estado de desprendimento, durante o sono. Ora, essa lembrança pode ser interdita. Mas aquilo de que não nos lembramos não está, por isto, perdido para a alma; as sensações experimentadas durante as excursões que ela faz no mundo invisível, deixam ao despertar impressões vagas; e não referimos pensamentos e idéias cuja origem muitas vezes não suspeitamos. Podemos, pois, ter visto durante o sono os seres aos quais nos afeiçoamos, com os quais nos entretemos e não lhes guardar a lembrança. Então dizemos que não sonhamos.

Mas se o ser lamentado não pode manifestar-se de uma maneira ostensiva qualquer, nem por isso estará menos junto aos que o atraem por seu pensamento simpático. Ele os vê, ouve as suas palavras e, muitas vezes, adivinhamos a sua presença por uma espécie de intuição, uma sensação íntima, algumas vezes até por certas impressões físicas. A certeza de que não está no nada; de que não está perdido nas profundezas do espaço, nem nos abismos do inferno; de que é mais feliz, agora isento dos sofrimentos corporais e das tribulações da vida; de que o veremos, depois de uma separação momentânea, mais belo, mais resplandecente, sob seu envoltório etéreo imperecível, e não sob a pesada carapaça carnal – eis a imensa consolação que recusam os que crêem que tudo acaba com a vida; e é o que dá o Espiritismo.

Em verdade, não se compreende o encanto que se pode encontrar em se comprazer na idéia do nada para si mesmo e para os seus, e a obstinação de certas pessoas em repelir até a esperança de que pode ser diferente, e os meios de adquirir a sua prova. Digase a um doente agonizante: “Amanhã estareis curado, vivereis ainda muitos anos, alegre, saudável”, ele aceitará o augúrio com alegria; o pensamento da vida espiritual, indefinida, isenta de enfermidades e preocupações da vida, não é muito mais satisfatória? Pois bem! o Espiritismo dela não dá apenas a esperança, mas a certeza. É por isto que os espíritas consideram a morte completamente diferente da maneira por que o fazem incrédulos.

PERFECTIBILIDADE DOS ESPÍRITOS

(Paris, 3 de fevereiro de 1866 - Grupo do Sr. Lat... – Médium: Sr. Desliens)

P. – Se, conforme o Espiritismo, os Espíritos ou almas se melhoram indefinidamente, devem tornar-se infinitamente aperfeiçoados ou puros. Chegados a esse grau, por que não são iguais a Deus? Isto não se coaduna com a justiça.

Resp. – O homem é uma criatura realmente singular! Sempre acha o seu horizonte muito limitado; quer compreender tudo, tudo captar, conhecer tudo! Quer penetrar o insondável e despreza o estudo do que lhe toca imediatamente; quer compreender Deus, julgar seus atos, fazê-lo justo ou injusto; diz como queria que ele fosse, sem suspeitar que ele é tudo isto e mais ainda!... Mas, verme miserável, alguma vez compreendeste de maneira absoluta algo do que te cerca? Sabes por qual lei a flor se colora e se perfuma aos beijos vivificantes do Sol? Sabes como nasces, como vives e porque teu corpo morre?... – Tu vês fatos, mas, para ti, as causas ficam envoltas num véu impenetrável e querias julgar o princípio de todas as causas, a causa primeira, Deus, enfim! – Há muitos outros estudos mais necessários ao desenvolvimento de teu ser, que merecem toda a tua atenção!...

Quando resolves um problema de álgebra não vais do conhecido ao desconhecido e, para compreender Deus, esse problema insolúvel desde tantos séculos, queres dirigir-te a ele diretamente! Então possuis todos os elementos necessários para estabelecer uma tal equação? Não te falta algum documento para julgar teu Criador em última instância? Não vais crer que o mundo seja limitado a esse grão de poeira, perdido na imensidade dos espaços, onde te agitas mais imperceptível que o menor dos infusórios de que o Universo é uma gota d’água? – Entretanto, raciocinemos e vejamos por que, conforme teus conhecimentos atuais, Deus seria injusto não se deixando jamais alcançar por sua criatura.

Em todas as ciências há axiomas ou verdades irrecusáveis, que se admitem como bases fundamentais. As ciências matemáticas e, em geral, todas as ciências, são baseadas no axioma de que a parte jamais poderia igualar o todo. O homem, criatura de Deus, conforme esse princípio, jamais poderia alcançar aquele que o criou.

Suponde que um indivíduo deva percorrer uma estrada de extensão infinita; de uma extensão infinita, pesai bem a expressão. É esta a posição do homem em relação a Deus, considerado o seu fim.
 
Dir-me-eis que, por pouco que se avance, a soma dos anos e dos séculos de marcha permitirá atingir o fim. Aí está o erro!... O que fizerdes num ano, num século, num milhão de séculos, será sempre uma quantidade finita; um outro espaço igual não vos permitirá fornecer senão uma quantidade igualmente finita, e assim por diante. Ora, para o mais noviço matemático, uma soma de quantidades finitas jamais poderia formar uma quantidade infinita. O contrário seria absurdo e, neste caso, poder-se-ia medir o infinito, o que o faria perder sua qualidade de infinito. – O homem progredirá sempre e incessantemente, mas em quantidade finita; a soma de seus progressos não será jamais senão de uma perfeição finita, que não poderia alcançar a Deus, o infinito em tudo. Não há, pois, injustiça da parte de Deus em que suas criaturas jamais o possam igualar. A natureza de Deus é um obstáculo intransponível a um tal fim do Espírito; sua justiça também não poderia permiti-lo, porque se um Espírito alcançasse a Deus, seria o próprio Deus. Ora, se dois Espíritos são tais que tenham ambos um poder infinito sob todos os aspectos e um seja idêntico ao outro, eles se confundirão num só e não haverá mais que um Deus; um deveria, pois, perder a sua individualidade, o que seria uma
injustiça muito mais evidente do que não poder alcançar um fim infinitamente distanciado, mesmo dele se aproximando constantemente. Deus faz bem o que faz e o homem é muito pequeno para se permitir pesar as suas decisões.

Moki

Observação – Se há um mistério insondável para o homem, é o princípio e o fim de todas as coisas. A visão do infinito lhe dá vertigem. Para o compreender, são necessários conhecimentos e um desenvolvimento intelectual e moral que ainda está longe de possuir, malgrado o orgulho que o leva julgarse chegado ao topo da escala humana. Em relação a certas idéias, está na posição de uma criança que quisesse fazer cálculo diferencial e integral antes de saber as quatro operações. À medida que avançar para a perfeição, seus olhos se abrirão à luz e o nevoeiro que os cobre se dissipará. Trabalhando seu melhoramento presente, chegará mais cedo do que se perdendo em conjecturas.

R.E. , agosto de 1866, p. 329